sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Privatizar o Handling da SATA. Para quê?

Num tempo em que a externalização de serviços está a ser fortemente questionada. O Governo Regional opta por comunicar que, a prazo, alguns serviços da SATA serão externalizados. 

A anunciada intenção do Governo Regional de separar os serviços de Handling da SATA, com vista à sua privatização, não é apenas um erro estratégico, é uma porta aberta à entrega de um setor essencial da aviação açoriana a interesses privados. 

O Handling não é um serviço acessório, mas parte integrante da operação aérea, separar significa desarticular a companhia e criar dependências artificiais. O paradoxo é evidente: privatizados os serviços, a SATA terá de os comprar a terceiros para apoiar a operação aérea, pagando pelo que hoje assegura dentro de portas.

As consequências não se ficam pela lógica financeira. Perde-se capacidade de controlo, enfraquece-se a coesão do Grupo SATA, fragiliza-se a defesa da mobilidade dos açorianos e dos interesses estratégicos da Região. O risco é claro: empresas privadas, movidas pela lógica do lucro imediato, não terão o mesmo compromisso com a continuidade territorial, com o emprego estável e qualificado, nem com a salvaguarda do interesse público. Esta separação não fortalece a SATA, antes abre caminho à sua fragilização e dependência, deixando no ar a pergunta essencial: a quem serve, afinal, esta opção política?

Aceito visões diferentes e com vantagens para os interesses da Região.

A questão financeira, sendo importante, não tem o significado nem a dimensão que alguns lhe conferem pois, para além das receitas próprias, insuficientes para encargos que não resultam apenas os da operação aérea, o Grupo SATA contribui para a Segurança Social, para a receita pública, através do IRS dos seus trabalhadores, mas também e, quiçá, sobretudo para que alguns setores da economia regional possam ter atividade lucrativa.

Aníbal C. Pires, 5 de setembro de 2025


5. 6 e 7 de setembro - FESTA DO AVANTE!

A Festa do Avante é muito mais do que um evento político e cultural. A FESTA é um espaço único de solidariedade, encontro e reencontro, onde se cruzam gerações, sotaques e percursos de vida. É o lugar onde a amizade se constrói no convívio simples, no trabalho voluntário, na partilha de ideais e de esperanças, sempre com os olhos postos num futuro mais justo e humano.

Entre palcos e debates, exposições e sabores do mundo, ergue-se um território de liberdade onde a luta se faz através da arte, da cultura e do diálogo. Aqui celebra-se a diversidade e o espírito coletivo, num ambiente de fraternidade que resiste ao tempo e se renova a cada edição.

Não é por acaso que, com toda a propriedade, se diz e bem, : "Não há Festa como esta".

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Memória e esquecimento

imagem retirada da internet
A memória coletiva, devia ser, mas não é, um arquivo neutro onde se guardam factos e datas. É, pelo contrário, um campo de batalha permanente, onde o que se recorda e o que se esquece resulta de escolhas políticas, culturais e económicas. O passado não é uma paisagem imutável. O tempo pretérito é continuamente reescrito a partir das opções do poder e do pensamento dominante que a cada momento histórico se impõe no senso comum e que melhor serve os seus interesses. E é por isso que a disputa entre memória e esquecimento nunca é inocente e que atualmente se transformou numa luta que urge travar para que o revisionismo não se imponha à verdade histórica.

Conhecer é um ato de libertação que arma os cidadãos, tornando-os menos vulneráveis à moldagem da opinião pública e ao revisionismo histórico. Por outro lado, é essencial perceber quais os interesses e as finalidades de quem decide sobre a reescrita da história.

Oito décadas depois da manhã de 6 de agosto de 1945, Hiroshima continua a ser o símbolo maior da capacidade autodestrutiva da humanidade. No espaço de segundos, uma cidade inteira foi reduzida a cinzas, e dezenas de milhares de vidas desapareceram numa nuvem de fogo e silêncio. O desfecho do conflito estava desenhado, mas os EUA não se abstiveram de cometer a barbaridade que três dias depois repetiram sobre a cidade de Nagasaki.

imagem retirada da internet

No entanto, a narrativa dominante tende a enquadrar estes acontecimentos como inevitáveis, quase naturais, parte de um desfecho histórico que teria poupado vidas ao acelerar o fim da guerra e, raramente, o mainstream refere quem foram os autores dos bombardeamentos. A justificação oficial, a ocidente, repete-se como uma espécie de mantra, abafando perguntas incómodas: Era mesmo necessário? Quais foram os cálculos estratégicos e geopolíticos que estiveram por trás da decisão? E por que motivo a memória de Hiroshima e Nagasaki raramente se cruza com a lembrança dos bombardeamentos convencionais, igualmente devastadores e, quiçá evitáveis, que arrasaram cidades como Dresden ou Tóquio?

Ao simplificar o acontecimento, a memória oficial apaga a responsabilidade política e moral. E este apagamento não é irrelevante: Sem memória crítica, a humanidade arrisca-se a normalizar a guerra, a vulgarizar a violência e premiar os autores desse ato desumano.

Também o colonialismo europeu é um território de memórias conflituosas e uma história, nem sempre bem contada, ou melhor, descrita pelos olhos dos colonizadores como uma missão civilizadora alicerçada na supremacia dos povos europeus e concretizada pela força das armas, mas que para os povos colonizados foi uma experiência de exploração, violência, racismo e epistemicídio. Situação que mesmo após os processos de descolonização se perpetuou sob a égide e as diferentes faces do neocolonialismo, do qual nem todos os povos colonizados se libertaram. O certo é que, nas últimas décadas, a tendência dominante continua a ser a do esquecimento seletivo e do branqueamento.

Em Portugal, por exemplo, o império é muitas vezes reduzido a episódios de exotismo e à branda nostalgia do imaginário colonial africano. Não se fala tanto da escravatura, dos massacres ou da guerra colonial que, até à revolução de Abril, vitimou milhares de jovens nas frentes de combate em África. A narrativa da lusofonia procura suavizar os traços mais duros dessa história e, há ainda quem tente justificar o colonialismo português com as teses do chamado luso-tropicalismo

Esquecer e adaptar os factos, neste caso, é também uma forma de perpetuar uma versão unilateral da história. A memória não deve ser uma galeria de glórias, mas um espaço de responsabilização. Para que não subsistam dúvidas estas palavras não se destinam aos milhares e milhares de jovens portugueses que foram forçados a combater numa guerra que não era sua e na qual muitos milhares foram mortos.

imagem retirada da internet
Outras memórias têm sido moldadas pelo presente, mas a história não mente. A OTAN fundada, como bloco militar defensivo, em 1949 integrou a ditadura portuguesa como um dos membros fundadores o que só se compreende face aos objetivos políticos desta organização que, como se sabe, tinha como principal finalidade o combate à expansão da influência soviética e uma suposta ameaça crescente de bolchevização do mundo.

Sendo assim e após a implosão da União Soviética, 26 de dezembro de 1991, e da anterior dissolução do bloco militar designado por Pacto de Varsóvia, em julho do mesmo ano, a OTAN deixou de fazer qualquer sentido como bloco militar.

As intervenções da OTAN na Jugoslávia, 1994 e 1999, no Afeganistão, em 2001 a 2021, no Iraque em 2004, na Líbia, em 2011, entre outros episódios de intervenção indireta, mas todos eles, veja-se, após a dissolução do Pacto de Varsóvia e da implosão da União Soviética. A partir do bombardeamento da Jugoslávia, a OTAN deixou cair o seu estatuto de bloco militar defensivo e assumiu-se como uma organização ofensiva ao serviço de interesses imperiais.

O que o mainstream transmite para a memória coletiva é uma narrativa de defesa da liberdade e da democracia, mas os seus objetivos e, particularmente, os efeitos reais das intervenções da OTAN foram devastadores para os países onde houve intervenção militar desta dita organização militar defensiva.

A memória oficial da OTAN é moldada pelo presente: enfatiza-se a ameaça externa, oculta-se o custo humano das guerras. E é neste jogo de esquecimento seletivo que se legitima a continuação da aliança, mesmo quando os resultados das suas ações são, no mínimo, discutíveis, bem assim como a sua existência.

Em Portugal, o caso da ditadura salazarista mostra bem como a memória é vulnerável à erosão do tempo e que, crescente representação institucional de forças populistas tem vindo a acelerar. No espaço de uma geração, a guerra colonial, a censura, a repressão política, a prisão, a tortura e o assassinato de opositores e a miséria que forçou centenas de milhares à emigração, foram sendo obliterados. Hoje, não é raro ouvir quem recorde a ditadura fascista como um tempo de ordem e tranquilidade e a difusão da ideia de que: antigamente é que era bom.

imagem retirada da internet

Este branqueamento da história não é inocente, distorce a realidade e, por conseguinte, fragiliza a democracia. Quando às novas gerações lhes é sonegado o direito à informação e formação sobre a história da ditadura, a memória é apagada e abre-se o caminho para revisionismos perigosos. Portugal oscila, perigosamente, entre a nostalgia do império e a integração europeia, entre a memória da guerra colonial e o esquecimento das suas consequências sociais, entre a celebração popular do 25 de Abril e o risco de a reduzir a uma data protocolar, ou substituir a data fundacional da democracia portuguesa por um outro dia 25.

A disputa entre memória e esquecimento não é apenas um fenómeno natural da passagem do tempo: é também uma construção social deliberada. Os poderes instituídos têm interesse em moldar a memória coletiva. Reescrevem a história para legitimar o presente, ocultam responsabilidades, exaltam vitórias e reduzem derrotas a notas de rodapé.

Os instrumentos dessa manipulação são claros. O ensino, quando reduzido a programas mínimos e acríticos, transforma-se em veículo de amnésia organizada. A comunicação social, dominada por lógicas empresariais e agendas políticas, seleciona o que deve ser lembrado e o que deve ser apagado, reduzindo a complexidade a narrativas simplistas. E as redes sociais, com a sua velocidade e fragmentação, amplificam falsidades e revisionismos, transformando a mentira repetida em verdade partilhada.

O perigo não está apenas no esquecimento, mas na substituição da memória pela ficção conveniente. Quem controla a memória molda o futuro. É por isso que recordar não é um exercício nostálgico: é um ato político. Defender a memória crítica é defender a democracia contra a erosão lenta do revisionismo, é proteger a verdade contra a anestesia da mentira e é, sobretudo, escolher não entregar o futuro às mãos de quem se alimenta do esquecimento e do revisionismo histórico.

Ponta Delgada, 2 de setembro de 2025 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 3 de setembro de 2025

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

instrumentos de manipulação

Aníbal C. Pires - do arquivo pessoal

Excerto de texto para publicação no Diário Insular e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.




(...) Os instrumentos dessa manipulação são claros. O ensino, quando reduzido a programas mínimos e acríticos, transforma-se em veículo de amnésia organizada. A comunicação social, dominada por lógicas empresariais e agendas políticas, seleciona o que deve ser lembrado e o que deve ser apagado, reduzindo a complexidade a narrativas simplistas. E as redes sociais, com a sua velocidade e fragmentação, amplificam falsidades e revisionismos, transformando a mentira repetida em verdade partilhada.

O perigo não está apenas no esquecimento, mas na substituição da memória pela ficção conveniente. Quem controla a memória molda o futuro. É por isso que recordar não é um exercício nostálgico: é um ato político. Defender a memória crítica é defender a democracia contra a erosão lenta do revisionismo, é proteger a verdade contra a anestesia da mentira e é, sobretudo, escolher não entregar o futuro às mãos de quem se alimenta do esquecimento e do revisionismo histórico. (...)


terça-feira, 2 de setembro de 2025

música na FESTA


"A Festa do Avante tem sido, desde a primeira edição, um palco onde cabe o mundo. São muitos artistas de que gostamos muito, que fizeram, fazem e farão a banda sonora das nossas vidas. E são, sobretudo, amigos que se juntam. 

Do fado ao rock, da música popular portuguesa ao jazz, do rap às músicas do mundo, da música de intervenção à pop, da celta ao punk, do post rock ao funk, passando pelo hip hop, do afro beat ao blues, do R&B ao reggae, do kuduru à electrónica e à minimal repetitiva, de todas aquelas que não se integram em categorias formais. Dos nomes mais consagrados aos que o serão no futuro, todos passam pela Festa do Avante!"

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Mariam Abu Daqqa - a abrir setembro

A chacina de jornalistas e o genocídio continua na Palestina ocupada pelo estado colonial e sionista.

Mariam Abu Daqqa, repórter internacional, foi morta junto de colegas por um bombardeio sionista ao Hospital Nasser de Khan Younis, no sul de Gaza. O assassinato de Mariam ocorreu no dia 25 de agosto pp, com ela morreram mais 20 pessoas.

O estado colonial sionista já assassinou mais de 200 jornalistas, mas por cá (a ocidente) os jornalistas e comentadeiros avençados continuam a justificar o injustificável com o 7 de outubro e o Hamas, como se tudo não tivesse começado há mais de um século.

O silêncio é cúmplice.


domingo, 31 de agosto de 2025

as artes plásticas na FESTA

"Este ano há Bienal de Artes Plásticas na Festa do Avante!, que já vai na 24.ª edição: o júri seleccionou 127 obras de 104 artistas. A Bienal será mais uma vez um espaço de diversidade e afirmação, onde os visitantes podem fruir de obras de arte que, em alguns casos, lhes eram distantes, ao mesmo tempo que os artistas têm oportunidade para mostrar os seus trabalhos nas diversas linguagens e técnicas das artes plásticas, multimédia e performance/instalação, consideradas hoje património da arte contemporânea.

Em paralelo com a Bienal, o Espaço das Artes apresenta uma exposição da artista Rita Andrade – com licenciatura em Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e mestrado em Art & Politics na Goldsmiths, University of London. O seu trabalho centra-se no poder transformador da arte como um meio pacífico de comunicação e na defesa dos direitos humanos, inspirado nas suas viagens à Palestina e Honduras.

Por outro lado, funciona como um catalisador para o discurso crítico, encorajando a auto-reflexão, o pensamento crítico e a coragem para sair das zonas de conforto. Ao desafiar normas estabelecidas e construções sociais, Rita Andrade inspira uma consciência mais profunda da influência e responsabilidade individuais, levando os espectadores a pensar no seu lugar e impacto no mundo.

Para mais informações sobre o trabalho motivador e empenhado desta artista, pode ser consultado o site Rita Andrade Visual Artist.

No Espaço das Artes haverá também uma banca, acessível a todos os visitantes, com diversos materiais, nomeadamente catálogos e serigrafias."

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

jornadas de trabalho na FESTA


A Festa do Avante! é feita pelo trabalho voluntário dos militantes e amigos e não seria a mesma se assim não fosse. Ao construir a Festa, experimentamos o valor e o poder do trabalho colectivo, onde o trabalho de cada um conta; experimentamos a igualdade: é gente de todas as idades, novos e velhos, de muitos saberes diferentes, lado a lado, a aprender e a ensinar a montar tubos, a erguer paredes, pregar balcões, pintar murais, coser toldos, instalar luzes. E isso é o primeiro passo para fazer da nossa Festa! um lugar tão especial.

As jornadas de trabalho têm início no dia 28 de Junho. Queres juntar-te a nós?

Contacta um centro de trabalho do PCP ou envia um email para geral@festadoavante.pcp.pt

terça-feira, 26 de agosto de 2025

a gastronomia na FESTA

A melhor comida do país reúne-se na Festa! Do choco frito setubalense, aos bolos lêvedos dos Açores, da posta mirandesa, passando pelo maranho, ensopados, papas, estufados, grelhados ou doces tradicionais. Além da gastronomia portuguesa, há também uma oportunidade para experimentar receitas tradicionais de outros países, como a queimada galega, o pisco do Chile e do Peru, a autêntica pasta italiana e a popular cachupa, porque a gastronomia também é um espaço de património, de encontros, de solidariedade e de muitos afetos.

o país na FESTA


"O combate às privatizações (designadamente da IROA, IAMA e Portos dos Açores) é um dos temas dos Açores. Aqui também se aborda o turismo e homenageia o “escritor militante” José Dias de Melo no seu centenário."