quarta-feira, 30 de julho de 2025

a juventude na FESTA


"Por tudo o que cá se pode encontrar e fazer, a Festa do Avante! é a festa da juventude, onde há espaço e tempo para os encontros felizes, para a molhada nos concertos, para as conversas prolongadas, para o barulho preferido, para os amores, para as noites quase intermináveis, antes do último a adormecer fechar a tenda.

Na Festa não faltam os sonhos e anseios e a realidade da vida e da luta dos jovens está presente em debates e exposições: a defesa da paz, do ambiente e de todas as formas de igualdade. 

A Cidade da Juventude, espaço construído e dinamizado pela JCP, é o ponto nevrálgico para os mais jovens que visitam a Festa! Mesmo junto ao relvado do Palco 25 de Abril conta, todos os anos, com um programa de debates, exposições, performances e muita música."

o livro na FESTA


"A Festa do Livro é um canto especial da Festa do Avante! é uma grande celebração do livro e da leitura. Estão presentes dezenas de editoras, milhares de livros de todos os géneros, e uma programação de conversas com autores, fazedores de livros e leitores."

segunda-feira, 28 de julho de 2025

o Cinema na FESTA


"Como o cinema também vive de conversas, propomos uma programação de filmes acompanhada pela presença dos seus autores, abrindo espaço de discussão e reflexão, salientando, não apenas a importância do trabalho invisível escondido na aparência da imagem, como o seu impacto na nossa percepção da história e no modo como encaramos o presente."

Aqui podem ver a programação do CineAvante

quinta-feira, 24 de julho de 2025

declínio anunciado

imagem retirada da internet
Os Estados Unidos da América (EUA) seguem em velocidade de cruzeiro para mais uma crise económica e financeira. Se a crise de 2008 pode ser considerada cíclica, desta vez trata-se de uma crise com contornos sistémicos que, naturalmente, afetará meio mundo. Não todo pois há um mundo que vive à margem da american way of life, e, como tal, os efeitos de uma crise nos EUA não se farão sentir da mesma forma num mundo que é, naturalmente, multipolar.

As civilizações não colapsam de um dia para o outro, a sua decadência vai-se instalando. Há, contudo, sinais de declínio tão evidentes que só a cegueira voluntária impede o seu reconhecimento. A insistência em estratagemas de domínio apenas irão acelerar um desfecho catastrófico. O chamado Norte Global, tendo como principais protagonistas os EUA, a União Europeia (UE) e o Reino Unido, atravessa uma crise profunda, de contornos económicos, sociais, políticos e estratégicos. Os pilares da hegemonia construída no pós-guerra, mas com as velhas caraterísticas imperiais e coloniais, há muito começaram a ceder. E o mundo é muito mais do que o Norte Global, ou seja, à sua volta tem havido alterações substantivas que, salvo melhor e douta opinião, não têm sido devidamente atendidas e a insistência na supremacia eurocêntrica e atlantista está a corroer as instituições. Veja-se o descrédito, devido à subserviência da Comissão Europeia e do Conselho Europeu ao capital financeiro dos oligopólios e à política externa dos EUA, mormente, no caso da questão ucraniana e da Palestina ocupada.

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Os EUA continuam a afirmar-se como a maior potência militar e tecnológica do planeta, direi que tenho algumas dúvidas que ainda assim seja, pois, essa superioridade já não corresponde à sua realidade interna. A dívida pública ultrapassa os 34 biliões de dólares, quando acabar este texto já terá aumentado algumas dezenas de milhões. O défice é estrutural e o financiamento externo, sobretudo através da venda de títulos do Tesouro, começa a mostrar fragilidades, à medida que alguns países reduzem a sua exposição à dívida estado-unidense.

Um outro fator está relacionado com a desindustrialização iniciada nos anos 1980, processo que esvaziou comunidades inteiras, provocando a degradação das condições de vida e o colapso da chamada classe média. A economia produtiva foi substituída por um modelo centrado nos serviços, finanças e tecnologia, altamente lucrativo para poucos e estruturalmente desigual. Os resultados desta opção são bem visíveis: precariedade, pobreza urbana, desigualdade crescente e um mal-estar social que alimenta fenómenos políticos populistas e disruptivos.

Numa tentativa pouco eficaz para travar os efeitos da desindustrialização, os EUA optaram por políticas protecionistas, as famosas taxas sobre as importações, tentando assim um regresso à economia produtiva, mas os resultados têm sido escassos e o regresso à industrialização demora o seu tempo, o capital prefere (quer) lucros fáceis e rápidos, por outro lado os efeitos mais visíveis da política protecionista são: o aumento dos preços, o aumento da pobreza e da exclusão social e uma disfunção nas cadeias de abastecimento.

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A desdolarização é já um dado adquirido, e este deveria ser um dos fatores mais preocupante para os EUA. A celebração de acordos comerciais em moedas próprias, no âmbito do BRICS alargado, mas não só. A moeda estado-unidense está a perder o seu estatuto de referência e à medida em que esse fenómeno crescer os EUA irão enfrentar sérias dificuldades para suportar o seu défice externo e o nível de vida assente no consumo financiado pelo endividamento.

Por estas longitudes e latitudes, isto é, na outra margem do Atlântico a União Europeia mostra-se incapaz de definir um rumo próprio. A resposta à guerra na Ucrânia foi marcada por um alinhamento cego com Washington. A rutura energética com a Rússia, compensada por importações de gás natural liquefeito, sobretudo dos EUA, fragilizou a economia europeia, aumentando os custos energéticos e comprometendo a sua competitividade industrial. A opção da UE pela continuidade do conflito russo-ucraniano ao invés de procurar soluções diplomáticas para a sua resolução tem sido, e continua a ser, um sorvedouro de recursos públicos. A economia da UE já debilitada, em grande medida pela questão russo-ucraniana e pelo efeito boomerang das sanções à Rússia, que o 18.º pacote vai agravar, desde logo, com a proibição da importação de fertilizantes russos, e a economia na UE vai-se afundando a um ritmo preocupante. Vejam-se também os cortes no apoio à agricultura para continuar a financiar a guerra na Ucrânia, bem assim como os cortes na coesão social.

A UE renunciou, na prática, a uma política externa autónoma. A dependência da NATO, cada vez mais orientada pelos interesses estado-unidenses, impede uma política externa europeia própria. A diplomacia perdeu voz, e a russofobia generalizada impede qualquer reconfiguração estratégica a leste. A UE, economicamente poderosa e aparentemente uma referência de liberdade e de paz, tornou-se um ator político secundário no mundo multipolar em formação.

O atual momento da política internacional é mais, muito mais, do que apenas uma crise económica ou geopolítica, estamos à beira do colapso da legitimidade do modelo ocidental e não será difícil prever que essa derrocada irá provocar uma grande instabilidade mundial de consequências, algumas delas, imprevisíveis. As promessas de progresso e estabilidade, que animaram a ordem europeísta pós-Segunda Guerra Mundial, esgotaram-se com o recrudescimento do liberalismo e subsequente rescrição da história. Os pactos sociais que sustentavam a coesão interna foram rompidos. E os povos, sentindo-se traídos, oscilam entre a apatia e a radicalização à direita.

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Entretanto, o Sul Global reorganiza-se. África, América Latina e Ásia procuram caminhos próprios, aprofundam alianças e desafiam a centralidade ocidental. A China afirma-se como uma potência reguladora. A Rússia continua a ter a importância que os seus recursos naturais lhe conferem, bem assim como o seu potencial bélico. Os BRICS testam novas formas de integração. E o mundo começa a ser redesenhado sem o protagonismo exclusivo de Washington, Bruxelas e Reino Unido.

O que está em causa não é apenas a perda de poder, mas a incapacidade de participar na construção de um novo mundo de respeito pela diversidade e de cooperação entre os povos. Os EUA persistem na lógica imperial, confiando na sua força militar e no dólar. A UE vacila entre a nostalgia do seu antigo papel colonial e imperial e no seguidismo cego dos interesses estado-unidenses.  Mas o tempo das hegemonias unipolares é já passado.

O processo de estupidificação das massas, deliberado e tolerado, tem sido reforçado por dois instrumentos complementares: a comunicação social mainstream e as chamadas redes sociais. A primeira, largamente capturada por interesses corporativos e políticos, abdicou do seu papel informativo e crítico para se tornar numa caixa de ressonância das agendas e pensamento dominantes. O jornalismo de investigação foi substituído por narrativas superficiais, que misturam informação e entretenimento (infotainment), e ainda com campanhas de manipulação emocional dirigidas às crenças e com fortes apelos ao sentimentalismo.

As redes sociais, por seu turno, que poderiam constituir-se como espaços de pluralismo e mobilização, tornaram-se num laboratório de vício, desinformação e polarização. A lógica algorítmica privilegia o escândalo e a reação impulsiva, promovendo o ruído em vez da reflexão. A política transformou-se em espetáculo e os cidadãos em consumidores fragmentados, atolados num fluxo constante de irrelevância, medo e distração. Neste cenário condicionado pelos algoritmos e pela decadência da comunicação social mainstream, torna-se mais difícil resistir, pensar criticamente e, sobretudo, mobilizar para alternativas políticas que, verdadeiramente, estão centradas na dignidade humana e na salvaguarda do planeta. Mas, também, é sabido que as lutas nunca foram fáceis, mas continua a existir quem esteja disposto a lutar.

As alterações na ordem política mundial, face aos indicadores conhecidos, são irreversíveis, porém, não se espere que um Mundo novo, mais justo e humano, nos caia no regaço. Nunca assim foi, a única coisa que cai do céu é a chuva tudo o resto é resultado da luta organizada dos povos, esses sim, os grandes motores das transformações sociais da história da humanidade.   

Ponta Delgada, 22 de julho de 2025 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 23 de julho de 2025

quarta-feira, 23 de julho de 2025

o Teatro na FESTA

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"O Avanteatro contará com uma programação diversa que trará à Festa do Avante! companhias mais experientes e companhias emergentes, profissionais do teatro de vários pontos do país e produções que dialogam com a actualidade a partir de abordagens criativas distintas e linguagens e temáticas variadas."

das dívidas

imagem retirada da internet



Excerto de texto para publicação no Diário Insular e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.






(...) Os EUA continuam a afirmar-se como a maior potência militar e tecnológica do planeta, direi que tenho algumas dúvidas que ainda assim seja, pois, essa superioridade já não corresponde à sua realidade interna. A dívida pública ultrapassa os 34 biliões de dólares, quando acabar este texto já terá aumentado algumas dezenas de milhões. O défice é estrutural e o financiamento externo, sobretudo através da venda de títulos do Tesouro, começa a mostrar fragilidades, à medida que alguns países reduzem a sua exposição à dívida estado-unidense. (...)

quinta-feira, 17 de julho de 2025

a corrida da FESTA

"A corrida da Festa do Avante! Tem os seguintes objetivos:

Permitir através da prática desportiva oportunidades de convívio e confraternização, amizade e solidariedade perante as contingências dos resultados da competição desportiva.

Proporcionar situações para compreensão do fenómeno desportivo e para defesa dos direitos dos cidadãos à prática do desporto.

Defender os valores do desporto quer como fenómeno de integração, quaisquer que sejam as origens sociais ou convicções políticas ou religiosas dos participantes, quer como contributo para a melhoria das suas condições de vida.

Divulgar a prática do desporto e particularmente a corrida, como elemento essencial, para a formação física das crianças e dos jovens, numa perspetiva educativa e para a manutenção da saúde do normal equilíbrio psicológico dos participantes.

Integrar e valorizar uma proposta alargada de prática de desporto num programa vasto, rico e diversificado de um grande acontecimento cultural e político que é a Festa do Avante!."

domingo, 13 de julho de 2025

bom senso ou senso comum

foto de Paulo. R Cabral
Ao termo senso, podem ser atribuídos vários significados. O senso pode ser: capacidade de pensar, ou ainda, juízo claro, de entre outros. Ao vocábulo senso juntam-se, por vezes, outros qualificativos para exprimir ideias diferenciadas, mas que se confundem nas linguagens do quotidiano.

O senso pode ser comum, ou bom. O senso comum nem sempre é sinónimo de bom senso e os dicionários da língua portuguesa estabelecem as diferenças com rigor.

Bom senso - equilíbrio nas decisões ou nos julgamentos em cada situação que se apresenta; senso comum - conjunto de opiniões ou ideias que são geralmente aceites numa época e num local determinados; (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa).

O bom senso implica, necessariamente, a reflexão, o pensamento e a capacidade de análise para tomar decisões. O senso comum exprime opiniões que, embora, aceites como verdades pela generalidade dos cidadãos, nem sempre, ou quase sempre, transmitem factos devidamente comprovados.

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Os ditos, ditados ou provérbios populares sendo do senso comum são expressões populares que sintetizam a sabedoria de gerações resultam da experiência acumulada pela população ao longo dos séculos, e estão ancorados na observação da natureza, do comportamento humano e das relações interpessoais. A maioria dos provérbios, sendo do senso comum, transmitem opinião fundamentada pela observação da realidade o que lhes confere indicações que podemos considerar de bom senso. Vejamos o seguinte dito popular: “mais vale prevenir do que remediar”. Este provérbio reflete um pensamento e ação de prevenção para evitar os efeitos e custos de uma ação de correção, por exemplo, os mecanismos passivos e ativos contra os perigos de uma eletrocussão ou mesmo de um incêndio provocado pelo desgaste ou mau funcionamento dos dispositivos elétricos, representando um custo acrescido estes serão sempre menores que os valores resultantes de um evento que poderá ter lugar por falta de prevenção. Neste caso é legítimo afirmar que o senso comum e o bom senso coincidem.

Outros ditados populares tendem a induzir inação como, por exemplo: “cada macaco no seu galho”. Ou seja, se o meu lugar é aquele não posso, ou não devo, procurar um galho que me não foi predestinado. Se o entendimento for este, e o senso comum assim o expressa, o resultado será a aceitação acrítica de que nada poderei fazer para mudar de galho o que inibe qualquer iniciativa individual ou coletiva de mudança transformadora, direi que, este dito se pode articular com um outro: “sempre assim foi e assim será”; este dito popular reforça a ideia de aceitação de algo que foi predestinado. Mas se há coisas que sempre assim foram e assim serão, muitas outras, por não obedecerem à ordem natural das coisas, podem ser alteradas e transformadas.

O senso comum aparenta ser inócuo e neutro, mas se atentarmos ao discurso ideológico dominante, que se afirma como despido de qualquer ideologia, constatamos que, tal como demonstrou o filósofo Antonio Gramsci, o senso comum tem um carácter ideológico. Segundo Gramsci o senso comum é um modelo de filosofia espontânea das massas, assente em fragmentos de religião, moral, experiência, mas, sobretudo, do pensamento veiculado pelo poder dominante. O senso comum aceita as desigualdades como algo natural, legitima as injustiças e reproduz ideias feitas. O senso comum parecendo, como já foi referido, neutro raramente o é.

imagem retirada da internet

A sua eficácia reside no facto de parecer distanciar-se de qualquer ideologia. Expressões que ouvimos com frequência da boca de alguns protagonistas políticos, que têm vindo a registar um expressivo crescimento eleitoral, como por exemplo “os beneficiários do RSI são uns malandros e vivem à custa de quem trabalha”, ou ainda “os imigrantes estão a ocupar o que é nosso”, estas e outras expressões que não tendo nenhum fundamento pois, como sabemos existem muitos beneficiários do RSI que trabalham, mas o salário é tão baixo que o agregado familiar é apoiado com esta medida social, por outro lado, um dos principais alvos deste apoio são pensionistas e crianças, ou seja, a maioria dos beneficiários do RSI são os trabalhadores que empobrecem a trabalhar, os cidadãos idosos com uma longa vida de trabalho e, por outro lado as crianças que não podem, naturalmente, trabalhar. Quanto à população migrante é igualmente do domínio público que o saldo das contribuições para a segurança social é positivo, constituindo-se mesmo como determinante para a sua sustentabilidade, isto sem referir a importância demográfica que representam. Os imigrantes são tudo menos um perigo para a segurança pública, aliás como os relatórios o comprovam, bem como, se possuidores de direitos sociais e laborais, não representam nenhum tipo de competição no mercado de trabalho.

Os discursos assentes no senso comum alicerçam-se em crenças e emoções, ou seja, não têm uma base crítica e científica o que torna o discurso permeável em largos setores da sociedade pouco dada à desconstrução do discurso político sem conteúdo e cheio de lugares-comuns, por isso são tão eficientes na manipulação da opinião pública mergulhada num nevoeiro informacional que as redes sociais ampliam. Autores como Louis Althusser e Pierre Bourdieu também exploraram esta dimensão do poder simbólico e da interiorização de esquemas mentais que moldam a forma como vemos o mundo. O senso comum funciona como um espelho deformado: devolve-nos uma imagem da realidade já filtrada por interesses, preconceitos e hierarquias invisíveis. É uma pedagogia silenciosa da resignação.

Nos dias de hoje, este campo tem sido particularmente explorado pela extrema-direita, que soube apropriar-se do senso comum para lhe dar roupagens novas. Ao discurso simples, direto e “anti-intelectual” junta-se o apelo à emoção, ao medo e à animosidade. É a linguagem do “bom povo” contra “as elites”, do “realismo” contra a “ideologia”, da “ordem” contra o “caos”. Mas o que, por vezes, parece bom senso é, na verdade, uma forma insidiosa de capturar o senso comum para projetos políticos autoritários ao serviço do capital sem rosto nem pátria.

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Em Portugal, como noutros países europeus, assistimos à crescente instrumentalização de temas como a imigração, a segurança ou o “politicamente correto” por parte de forças políticas que se alimentam de simplificações e caricaturas. Afirmações como “os imigrantes vêm para viver à custa do Estado” ou “já não se pode dizer nada” instalam-se no senso comum, reforçando perceções de ameaça e exclusão. A repetição dessas ideias nos media, nas redes sociais e até em conversas informais torna-as quase inquestionáveis, mesmo quando carecem de base factual. Há nelas um verniz de “realismo” que mascara, na verdade, a fabricação do medo e dos rebanhos acríticos.

É neste contexto que a educação pública, a cultura e os media responsáveis assumem um papel decisivo. Promover o pensamento crítico não é um luxo pedagógico é, diria, um imperativo democrático. Ensinar a distinguir a opinião do facto, a argumentar com base em evidências e a desconfiar das verdades feitas é a melhor forma de combater a cristalização do senso comum. Do mesmo modo, a literatura, o teatro, o cinema ou a poesia, isto é, a cultura tem uma função que vai muito além do entretenimento: é um instrumento de libertação simbólica. A confusão entre senso comum e bom senso não é apenas uma questão semântica. É uma armadilha política. Num tempo em que crescem a desinformação, o populismo e o ódio como forma de mobilização, torna-se urgente resgatar o valor do pensamento crítico, da dúvida, da razão prática, ou melhor, do bom senso. 

O bom senso não grita, não polariza, não humilha. Num tempo em que alguns se erguem em nome do “povo” para dizer barbaridades com ar de verdades absolutas, importa recuperar o bom senso como prática cívica e não como um eco acrítico do que se diz ou do que se acha. Porque, no fundo, não é o que “toda a gente diz” ou o que se “acha” que nos deve guiar, mas sim o que conseguimos pensar por nós mesmos, com base em factos, conhecimento e cultura.

Ponta Delgada, 8 de julho de 2025 

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 10 de julho de 2025

terça-feira, 8 de julho de 2025

do senso

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Excerto de texto para publicação no Diário Insular e, como é habitual, também aqui no blogue momentos.





(...) Os discursos assentes no senso comum alicerçam-se em crenças e emoções, ou seja, não têm uma base crítica e científica o que torna o discurso permeável em largos setores da sociedade pouco dada à desconstrução do discurso político sem conteúdo e cheio de lugares-comuns, por isso são tão eficientes na manipulação da opinião pública mergulhada num nevoeiro informacional que as redes sociais ampliam. Autores como Louis Althusser e Pierre Bourdieu também exploraram esta dimensão do poder simbólico e da interiorização de esquemas mentais que moldam a forma como vemos o mundo. O senso comum funciona como um espelho deformado: devolve-nos uma imagem da realidade já filtrada por interesses, preconceitos e hierarquias invisíveis. É uma pedagogia silenciosa da resignação. (...)

domingo, 6 de julho de 2025

Álamo Oliveira - 1945-2025

Álamo Oliveira partiu hoje para uma viagem que todos temos anunciada.
O poeta, dramaturgo e ficcionista disse num contexto de celebração:
(…) gostaria mais de ser lido que lembrado (…)

O Álamo Oliveira será sempre lembrado enquanto for lido. Digo eu, que de vontades e letras pouco entendo.



olhares

toda a manhã a vida esteve cinzenta 
com a alma molhada e uma tristeza 
duvidosa escorrendo do olhar.
a tarde chegou de cabelos escorridos prometendo 
deitar-se na cama da preguiça 
sem vontade de se despir nem de tirar 
os sapatos da angústia.
a vida sabe que não pode abrir a porta 
e fugir para o outro lado do etéreo.
pobres e ricos caem como soldados vagabundos 
na vala da vida.    o catrapiler dos sonhos 
cobrirá     com pesadelos     o mundo inteiro.
por isso    vai amanhecer outra vez 
com a vida cinzenta    a alma molhada 
e um olhar triste caindo como 
as telhas da casa    partindo-se.


Álamo Oliveira